«Assumindo como mote um verso de uma canção de Sérgio Godinho, esta pintura mural site-specific, realizada no âmbito do projeto Monte do Malhão – Arte Rural, por Ana de Sousa (julho 2022), evoca a transição da agitação quotidiana, própria de quem vive na cidade, para a tranquilidade experimentada por todos aqueles que habitam este lugar de turismo rural, mesmo que seja apenas por uma noite. Situada à entrada do Monte do Malhão, esta obra de arte de rua dá as boas vindas a quem chega, com a promessa de que o vento que consigo traz se dissipe na horizontalidade da paisagem. No centro esquerdo da representação, ergue-se a sombra de uma frondosa e delicada amendoeira, tão caraterística em terras algarvias que deu origem à lenda das amendoeiras em flor, fenómeno que só ocorre na primavera. Um tempo ameno e amenizador, próximo da natureza e distante de todos os constrangimentos que nos levam para longe de nós, é precisamente a proposta deste projeto. A complementar a sombra da árvore, encontram-se representadas, à direita, as sombras de quatro figuras: um rapaz de boné a segurar uma vara, outros dois a tocar acordeão e uma menina com uma flor, de pé esguio e frágil, que lembra um cravo, símbolo da liberdade na cultura portuguesa. As sombras destes jovens seres, habitantes permanentes no Malhão remetem-nos para a infância/juventude, aliando à alegria que brota da liberdade (de brincar, tocar e ver), a ideia de sonho. O Monte do Malhão é isto mesmo: um lugar fruto do sonho que convida a parar e a sonhar, como se chegasse a primavera e os nossos sonhos abrissem em flor».
Lisboa, 4 de fevereiro de 1980. Licenciada em Artes Plásticas – Pintura (2003), mestre (2007) e doutora (2016) em Educação Artística, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Ana Sousa é docente nesta instituição (desde 2009), artista e investigadora integrada no Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes, onde coordena o grupo de Educação Artística. Nos domínios da pintura e da fotografia, uma das suas últimas exposições intitula-se Na véspera de não partir nunca e teve lugar na Quinta da Cruz, em Viseu, de 21 de julho a 5 de setembro de 2017. Enquanto fiber artist, expõe regularmente desde 2002, contando com inúmeras exposições no Museu *da* Tapeçaria de Portalegre Guy Fino. Ainda a nível nacional, é de destacar a sua participação na exposição coletiva Palimpsesto, da curadoria de Maria Manuela Lopes e organização da associação Cultivamos Cultura, no Museu Municipal de Penafiel, de 17 de janeiro a 9 de fevereiro de 2020. A nível internacional, é de mencionar a sua participação na exposição coletiva Winter Exhibition da Verbeke Foundation, em Kemzeke, na Bélgica, de 15 de novembro de 2015 a 14 de março de 2016. Como docente e investigadora, leciona no Doutoramento em Educação Artística, no Mestrado em Educação Artística e no Mestrado em Ensino de Artes Visuais, na Universidade de Lisboa, desenvolvendo estudos, de natureza colaborativa e construtivista, nos domínios da formação de professores e da didática das artes visuais. É também investigadora colaboradora na Universidade de São Paulo e co-responsável pelo projeto ConfiArte: Oficinas Re-Criativas de Arte-Cidadania, patrocinado pela DGArtes.